Ainda é tempo de seguirmos firmes, patriotas!

A posse de Lula não encerra nossa luta! Há muito para ser feito durante este governo!

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A ideia de patriotismo de que se orgulha o genocida fugido soa-me a uma construção típica de quem não entende também o que significa soberania e cidadania. É oriunda de um complexo de inferioridade possível apenas na mente de colonizados, que tentam imitar o que vêm nos filmes estadunidenses. Procuram uma transposição de sentimentos nacionais estrangeiros, como se a construção do patriotismo dos outros fosse ou pudesse ser descolada de sua história própria. É como colocar as cores do Brasil num Capitão América importado, que nada diz respeito de nós mesmos. É um patriotismo xenófobo de si mesmo, sem memória, descolado da própria realidade. O patriotismo, mesmo nos filmes estadunidenses de propaganda, tem a ver com a noção de “fellowmen”, companheiros, iguais. É, antes de tudo, um compromisso com os compatriotas. A versão bannonista que inspira extremistas lá e aqui é uma espécie de renascimento dos valores confederados, que viram no fim da escravidão a perda de seus privilégios, do direito de explorar quem, considerados inferiores, serviam como interessava.

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No lugar desta paródia, a rampa do presidente Lula – e seus discursos – apontou o que significa patriotismo de verdade: ninguém fica de fora. Um patriota não deixa um irmão pra trás, não lhes tira direitos. Um patriota acode os caídos.

Um símbolo nacional, como uma bandeira ou um hino, não guarda em si significado algum, se não representa seu povo. Guardará, talvez, uma reminiscência do que foi (e que perdeu-se), mas é no cidadão que moram os valores formadores de uma nação. Suplantar, pela violência, o direito de escolha, suas liberdades a identidade e pertencimento é, desnecessário dizer, antidemocrático e antipatriótico.

O último discurso covarde do mandatário fujão é especialmente indicativo de um governo pra poucos e, portanto, é qualquer coisa antes de ser patriótico. “Não reconheço o direito a diferença, a ideias novas de identidade, família, governo. Tudo que não sou eu ou como eu deve morrer.” É como condenar à morte um soldado ou soldada que acabou de lhe salvar a vida, por ser gay, negro ou de outro estado.

Nas roupas dos “judeus de serviço” que o Nazismo explorava ia uma braçadeira que os identificava como párias. Essa crueldade não deve ser da serventia de um símbolo nacional.

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O novo governo apresenta-se como um governo pra todos, mesmo àqueles que o tentaram derrubar. Ainda que seja necessário fazer justiça contra os insurretos, um Estado justo, com noções adequadas de patriotismo, deve garantir que os direitos humanos dos imputados sejam respeitados, por mais esforço que tenham feito pelo fim desses mesmos direitos – para os outros.

*** Esta é uma coluna de opinião e não reflete o posicionamento da i7 Network.