Pedido de afastamento: Salles não entende a realidade quando diz que pode pedir US$ 1 bilhão a outros países

Bolsonaro repensa pedir a soma para a cúpula do clima na próxima semana após queixa-crime contra Salles.

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O governo federal se vê numa grande enrascada com o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, em meio ao planejamento para a participação do presidente Jair Bolsonaro na cúpula do clima – prevista para próxima semana – que reunirá quarenta chefes de Estado a pedido do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. 

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De acordo com uma carta sinalizada pelo presidente da República a Biden, o Brasil pretendia pedir uma ajuda de U$ 1 bilhão para combater o desmatamento. O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sinalizou à imprensa que o Brasil tinha credibilidade com base em seus resultados para pleitear os recursos juntos aos países desenvolvidos. Entretanto, a imagem do país lá fora é negativa desde quando esse mesmo governo recusou um fundo internacional no início do mandato de Bolsonaro de milhões de dólares que eram direcionados à preservação da Amazônia antes da pandemia. 

Aliados ao governo informaram a este colunista que o presidente Bolsonaro repensa a questão nestes últimos dias antes da viagem, constrangido com a situação e a imagem de Salles perante o cenário internacional. Biden pretende nesse encontro anunciar o aumento da meta americana para a redução de gases de efeito estufa, justamente quando o cenário brasileiro não apresenta a melhor imagem ao estrangeiro. 

Repercutiu mal lá fora a informação de que o Tribunal de Contas da União (TCU) e o procurador do Ministério Público pediram o afastamento cautelar de Ricardo Salles do ministério do Meio Ambiente na semana passada. O pedido foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de uma notícia-crime contra o ministro feita pela própria Polícia Federal do Amazonas. Como era de se esperar e como já ocorrido em outras situações em que órgãos governamentais apontaram irregularidades de representantes do Estado, o superintendente da Polícia Federal, o delegado Alexandre Saraiva, foi retirado do cargo de maneira arbitrária um dia depois do pedido ser realizado, o que sinalizou claramente um recado do governo contra a instituição. 

A justificativa do procurador no pedido de afastamento de Salles se baseia nos argumentos de que o ministro, certamente, vai tentar dificultar as investigações que pesam contra ele enquanto estiver exercendo o cargo. A presidente do Tribunal de Contas da União, a ministra Ana Arraes deve encaminhar o pedido nos próximos dias ao plenário da instituição. 

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Salles é acusada na queixa-crime de comprometer a investigação com tentativas de obstrução acerca das informações sobre a apreensão recorde de madeira ilegal. O ex-superintendente da Polícia Federal que foi afastado pelo governo havia pedido ao Supremo Tribunal Federal para que Salles fosse investigado por três crimes, entre eles o de organização criminosa. Entre outros alvos dessa representação estão o senador Telmário Mota (PROS-PR) e o presidente do Ibama Eduardo Bim.