Exclusivo: fontes da Marinha dizem que não vão acatar ordens políticas e que democracia é irrevogável

I7 News conversou com militares de altas patentes após renúncia dos três comandantes das Forças Armadas.

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Logo após o anúncio de que os três comandantes da Marinha, Aeronáutica e Exército renunciaram aos cargos nas Forças Armadas sob a justificativa de que o presidente Jair Bolsonaro estava tentando interferir nos órgãos para objetivos políticos, a reportagem do I7 News conversou com almirantes militares que exercem altas patentes dentro das Forças Armadas, que negaram veemente qualquer possibilidade que seja instalado um estado de sítio durante as próximas eleições a pedido do poder executivo. Segundo essas fontes militares, as corporações já estão alinhadas entre si para não responderem a qualquer ordenamento político durante o período eleitoral.

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Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou o ex-presidente Lula elegível, fontes militares garantem que o presidente tentou forçar que as Forças Armadas interferissem nas decisões do Supremo através de pronunciamentos públicos, e que os pedidos foram negados pelos comandantes das três forças.

Segundo essas fontes, os 21 anos de regime militar não apenas influenciaram a história, mas a cabeça dos próprios militares das Forças Armadas, e por isso existiria um sentimento de arrependimento, quase vergonha, por parte dos militares que se formaram nas Academias Militares, a partir da transição dos anos 1970/80.

“Existe um entendimento difundido da seguinte forma: “militar não se mete em política”, que, não por acaso, é uma premissa que consta na Constituição. Os ensinamentos das Escolas de Altos Estudos militares também enfatizam que o Poder Militar precisa estar pronto para atuar (interna ou externamente), quando convocado pelo PODER CIVIL, no caso de inapetência das Forças Policiais (internamente) ou da diplomacia (externamente-conceito de Defesa)”, explica uma dessas fontes, que é um dos generais das Forças Armadas.

Ainda de acordo com essas fontes, o erro mais evidenciado pelo regime militar de 1964-1985 foi tentar impor normas e comportamentos de quartel a uma população de formação civil:

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“As denúncias de tortura foram mais uma página escabrosa na história, mas o erro primordial foi manter a ordem na base do “conosco ninguém pode, vai ser assim e pronto”, disse.

Os militares do serviço ativo de hoje consultados pela reportagem entendem perfeitamente isso. Outro aspecto é o da liderança inquestionável. Os comandantes de Força hoje são “mais um” dentro do processo. Não são reconhecidos como lideranças isoladas e capazes de subverter uma ordem constituída.

Segundo fontes do alto escalão da Marinha, os militares que centram seus cargos nos comandos atuais das Forças Armadas “jamais tomariam a iniciativa de repetir conspirações de lideranças militares das décadas de 1950/60. Querem estar sempre “de bem” com a população e afins.”

Diante desse quadro, segundo foi alinhado e acompanhado por essas fontes recentemente dentro da Marinha, Aeronáutica e Exército, mesmo que o presidente Jair Bolsonaro determine o uso das forças para objetivos políticos, “não há chance de se repetirem os eventos de 1964. Podem descartar essa hipótese. As Forças não estão politizadas, tornaram-se eminentemente técnicas”, esclareceu.