Médica com Covid-19 desabafa e comove: ‘Adoecemos cuidando de doentes, não porque fomos ao shopping’

História da médica e de colegas reflete vulnerabilidades daqueles que atuam na linha de frente do novo coronavírus.

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A médica Priscila da Silva Daflon, de 40 anos, relatou sua indignação ao procurar a BBC News Brasil para fazer a denúncia daquilo que ela chama de descaso do poder público e até mesmo da população no que diz respeito a consideração com o esforço dos profissionais de saúde que foram infectados com a Covid-19.

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Ela ressaltou que o mundo vive uma guerra biológica, e ressaltou que os soldados nessa guerra foram os profissionais de saúde. Alguns adoeceram e morrem nessa árdua luta. A insatisfação da médica aconteceu no mês de setembro quando recebeu uma resposta do CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho, que ela havia feito à Prefeitura do município de Itajaí, local em que é servidora concursada e atua atendendo em UPAs – Unidade de Pronto Atendimento. Além da prefeitura, ela atua como autônoma em uma unidade de atendimento infantil que presta serviço Secretaria de Saúde da cidade.

A profissional de saúde contou que contraiu Covid-19 no mês de julho, o que foi constatado através de um teste rápido. Por causa disso, a médica desenvolveu uma isquemia cardíaca, quando o fluxo sanguíneo e oxigênio para o coração ficam prejudicados. Inclusive, ela teve que ficar hospitalizada alguns dias.

No entanto, a profissional e outros colegas de trabalho que contraíram Covid-19, tiveram com resposta que não serão emitidos CATs, já que não seria possível afirmar com absoluta certeza se o vírus foi contraído no ambiente de trabalho. Priscila achou a resposta do laudo ofensiva. Ela reconhece que teve acesso aos equipamentos de proteção necessários, mas ressalta que o local de trabalho por si só já é um ambiente de risco.

“Não adoecemos porque fomos ao shopping, à praia, a uma festa… Adoecemos porque estávamos cuidando dos doentes. E isso que é vergonhoso: não só o governo de Itajaí, mas também os estaduais, federal, deixarem de reconhecer que esses profissionais adoeceram lutando pela saúde do país”, lamentou.

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A médica também acha um absurdo que o governo federal não tenha incluído a Covid-19 na lista das enfermidades ocupacionais, pois isso facilitaria o acesso ao auxílio-doença através do INSS.