O secretário estadual da Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, declarou que a menina de 10 anos, estuprada e engravidada pelo tio, precisou passar por cima da “religiosidade” dos integrantes do Conselho Tutelar e de médicos, a fim de conseguir a autorização para a realização do aborto. O feto estava na vigésima segunda semana de gestação, o que refletiu em discordâncias a respeito da consecução ou não do procedimento abortivo.
Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, Nésio Fernandes descreve o argumento utilizado por um dos médicos a fim de tentar convencer a não realização do aborto. Segundo ele, o especialista afirmou que a menina de 10 anos tinha “estrutura” para ser submetida ao parto.
“Recebi a avaliação do obstetra do município dizendo que a criança tem pelve de 13 anos e que, por isso, podia parir. Coisa horrorosa”, destaca o secretário estadual de Saúde. De imediato, Nésio Fernandes requisitou a transferência da criança para a referência estadual do Hospital das Clínicas do estado e, diante da negativa para a realização do aborto, foi feito contato com a unidade de saúde em Pernambuco, que aceitou a transferência, realizada no dia seguinte.
Nésio Fernandes criticou a postura religiosa e conservadora dos integrantes do Conselho Tutelar. Segundo ele, é comum este tipo de empecilho nos serviços ambulatoriais municipais, descrevendo-o como uma grande hipocrisia.
O especialista defende ainda que a equipe do Hospital das Clínicas de Vitória foi responsável ao se abster da realização do procedimento, uma vez que não haviam condições adequadas para a realização do aborto, uma vez que o feto já estava em estágio avançado da gestação, o que poderia trazer riscos para a criança.